25 de fevereiro de 2008

As imagens da desesperança

Quando algo é muito livre, provoca em quem é travado demais um certo desconforto. Muitas pessoas sâo travadas demais, algumas têm travas, outras têm muitas travas, outras parece que não sabem o que significa limites quando o assunto é se dar prazer. Mas todo mundo tem alguma trava, pra não sair atirando por ai.
Porém, algumas pessoas são tão travadas que perdem certas noções. Para estas pessoas, algo livre demais causa enjôo, algo sincero demais não encontra eco em seu modus operandi. Esse sentimento, essa contrariedade desesperançosa, é ilustradas na mídia, na literatura,nos filmes, nos quadrinhos, etc. por imagens como: olhos muito escuros, ou olhos muito brancos, ou temperaturas muito frias, ou dores eternas, ou culpas quase sólidas... estas são as imagens da desesperança, da dor tangível que maltrata, por vezes, a todos; e para sempre, a alguns pobres diabos.

16 de fevereiro de 2008

Institucionalizados

Eles estavam feios. Seus olhos eram quase opacos, quase vazios. Nada naquele lugar combinava com eles. Embora não existissem divisórias, quase ninguém se olhava. Quase ninguém percebia o outro. Me senti um intruso, alguém vindo de outra dimensão. Por um lado eu era alguém mais livre por não estar sempre lá; Um antigo escritório que eu costumava chamar de "meu trabalho", e que hoje representa muito pouco para mim. Mas ainda mexe ser de fora, como sempre fui, querendo ou não.
O que é a vida em uma jaula, esperando a comida chegar, completamente fora do habitat natural E completamente domesticados.
Asas cortadas e vidas limitadas.
Vidas artificiais, mantidas por aparelhos sociais.

12 de fevereiro de 2008

Aceitar o que se tem que fazer

Ela aceitou minhas diferenças, custou mas aceitou. Aceitou que existem certas coisas que eu simplesmente tenho que fazer, existe uma certa personalidade que eu tenho que assumir, não porque eu não poderia ser outra coisa, mas pelo fato de que o impulso em ser esta coisa que sou é mais forte. Sim, abdiquei de várias coisas, e não explorei meu potencial ao máximo. Ao invés disso, sigo um destino traçado por outros para mim, algo contra o qual eu não consigo por hora lutar. Hoje aceito o que tenho que ser por que é sim mais fácil, e estou um pouco cansado das porradas que tomei das pás daqueles malditos moinhos de vento.

Medo

Num filme nada cult e nada cabeça, "O diário da princesa", o pai diz à filha que "coragem não é sentir medo, mas saber que existem coisas mais importantes do que o medo". É importante seguir, e é importante ficar, cada qual a seu tempo. Sinto que tenho que ir adiante, porém tem uma pedra amarrada no meu tornozelo há muito tempo. A pedra me faria ir devagar, mesmo assim conseguiria chegar ao menos mais perto do meu destino, mas o fato é que esmoreço e evito a exposição ao fracasso. Por sorte ou providência, estou cercado de boas pessoas, e talvez por isso, e só por isso, eu ainda seja bem sucedido em certas mudanças.

10 de fevereiro de 2008

Sonho

No início do sonho ela flutuou por entre flores, pássaros e nuvens feitas de algodão. Depois começou a cair e a escurecer e sentir a lama viscosa e a solidão ao seu redor. Ela nadou e deslizou sentido-se observada e assustada, e vislumbrou uma saída, que seria acordar, na forma de uma claridade adiante. Mais um pequeno esforço e chegaria... mãos começaram a segurá-la, vozes disseram que não, que ela não sairia, que ela pertencia àquele lugar, e ela chutou e bateu e gritou e se arrastou, suja, imunda com a lama impregnada em seu corpo nú e machucado, seu cabelo puxado, seus seios feridos, sua boca amortecida e a garganta apertada de tentar gritar sem encontrar a voz, e enfim ela encontrou a clareira, uma gruta com uma lagoa, onde se banhou e não mais ouviu as vozes nem sentiu as mãos, limpou suas feridas e nadou em direção à claridade. Acordou suada e nua, olhou para o lado e fez sexo com seu parceiro, sexo, e não amor; algo quase terapêutico, sexo apenas para sentir-se viva, apenas para sentir.

Na Garganta

Nada justifica a ignorância intencional. O pior cego é aquele que não quer ver... e, de repente, nos descobrimos rodeados deles, dos piores cegos, cegos intencionais que cegaram em prol de um pensamento uno e fechado entre si. O grupo dos piores cegos parece esperar uma oportunidade para revelar sua cara, seu raciocínio fanático, sua atitude insensível diante daquilo que fomos acostumados a chamar de óbvio e humano. Desprezar uma criança no farol e/ou temer a criança no farol, é desprezar e temer a própria existência. Ou, é assumir de fato uma atitude algo fascista de dizer que ELES são diferentes de NÓS.
O pior é saber que "NÓS" e "ELES" pertencem à mesma família humana. O pior é um dos lados exigir que o outro faça "O Certo", emanando certezas existentes somente em sua própria loucura manifesta em um grupo, como paranóia coletiva e delirante, típica daqueles que evitam a felizidade, pois não se sentem no mérito de sorrir.