30 de setembro de 2010

A melhor expressão de você mesmo


Quem é você? Sua camiseta com Che Guevara mordendo uma maçã da Apple traduz sarcasmo, seu amor por bebida é um tanto autodestrutivo, seu condomínio aprovou a troca das cameras de segurança por modelos mais novos, com som, cores e infravermelho; seu carro atende seu celular com um leve vibrar de banco; sua mulher aplica botox antes dos 30, e chora às 5as feiras no divã. A reforma da praia consome seu tempo livre, mas seu tempo livre sempre é consumido por algo, ou por você mesmo, então na verdade ele não existe.
Eu queria ter ido à peça de duas amigas, pois sei que o teatro é a melhor expressão dessas amigas, ou ao menos eu acho que elas acham isso, sei lá, ficou confuso. O fato é que somos expressos na carne em braile, tiramos de dentro das tripas um lindo coração, sorrimos e continuamos, mesmo quando o nada nos sorri de volta, enigmático.

21 de setembro de 2010

Fim da Euforia




E no final do baile, cansaço. Como um anjo decaído, a máscara se foi, borrada pelo suor e pelo atrito. Botões soltos, sapatos na mão ou esquecidos, de cristal ou de plástico, pouco mais de 4 horas, e poderiam ser doze, ou duas, não importa, a festa sempre acaba.
Festa é o nome que damos ao rito de louvor à felicidade, a uma das mairoes felicidades que conhecemos: a comunhão. Festa é partilhar com o outro do mesmo sentimento, quer seja ele o som, a luz, o glamour ou simplesmente uma reza, é tudo comunhão. Finda a festa, voltamos para a vida. A festa simboliza um pedido humano a um deus qualquer. Pedimos que esse deus torne eterna nossa alegria fugaz, nossa adrenalina de momento, nossa euforia extrema. Mas o responsável não nos atende, ao menos não de bate-pronto. Ele nos diz, metaforicamente, que temos que sofrer mais um pouco para merecermos mais. Temos que penar muito e temos que ter só alguns momentos, vislumbres michos apenas, do que é a felicidade. É cristão, e é absurdo, mas é tudo o que faz a maior parte de nós, a maior parte do escasso tempo que temos.