28 de julho de 2010

Nunca abandonei de verdade


Na minha cabeça, ninguém que um dia foi de verdade importante morre. Eu tenho uma caixinha onde deixo essas pessoas. Não é uma caixinha de razão, do tipo "ah, aquele amigo meu que não vejo mais me ensinou a empinar pipa, logo ele fica aqui, e aquela ex-namorada me ensinou outra coisa que eu guardo ali" - nada disso. É uma coisa mais religiosa, mais de ligação mesmo, com o passado onde vivi com tais pessoas. É um monte de memórias das sensações de uma época, que foram representadas por algumas pessoas.
É claro que tem gente que foi importante para mim, mas que eu fui enterrando, meio que "matei", talvez porque não havia espaço suficiente no meu Hard Disk cerebral. Mas, ao contrário, há outras pessoas que eu penso com muito carinho. Me pergunto o que pensam, acho que acham que eu as "matei". Não. Apenas não tenho condições de ter essas pessoas na minha vida. Perdi intimidade, perdi elos. Percebi que há limites para a abrangência humana, não como um todo, mas na esfera individual. Somos mortais, somos falíveis. Ah, sim, é uma desculpa esfarrapada. Tipicamente humana.

6 de julho de 2010

O Silêncio como Signo

Silenciar significa muitas vezes mais do que falar. Calar pode ser um momento de dúvida, um cansaço ou simplesmente um não tempo, o tempo correndo por dentro e ao redor de você. Silenciar significa inação, incapacidade de reação, obtusidade perante o presente. Presente obtuso. Meu silêncio mescla uma impotência crônica diante do que sou, faço e desejo. Simplesmente olho para a página em branco e não me vejo refletido nas palavras que penso em registrar - ou, o que é pior, poucas palavras vêm.
A velocidade do entorno é maior, é muita, cansa. A impotência e o baixo alcance cansam. E o purismo do coração exige a qualidade acima da quantidade de texto, purismo que na maioria das vezes soa igual a procrastinar, mas tem sua razão de ser.