18 de abril de 2008

Não vire ostra


Quem dera fosse fácil. Quem dera fosse nosso. Quem dera nos dessem algo de presente. Não, temos que tomar com as mãos, tomar de volta, meu irmão. Em nossa educação nos disseram que o mundo era nosso, até onde nossa vista alcançasse, mas que o haviam tirado de nós. Era nosso, mas estava tomado. E este é o padrão com o qual vimos trabalhando desde então. Nada é nosso, nada é simples. E a culpa é dos outros.
Saber disso é importante, saber de onde viemos, de que realidade viemos, com quais valores fomos moldados. Mas saber disso só será útil se fizermos o movimento na direção certa, irmãozinho. Não basta dar socos no ar, tem que ter pegada. Não basta saber atirar, tem que mirar antes, definir o plano e executar. E esquecer que o mundo é nosso e que somos príncipes em um reino de fadas. Porém, essa nobreza medieval nunca vai nos abandonar. É o legado com o qual faremos nosso sucesso. Ou não. Mas afinal, e daí? Quanto de sucesso realmente precisamos? Existe na nossa formação uma "dualidade de caráter", de um lado o pai que sempre teve a segurança de ter onde cair morto, e por isso nunca se preocupou muito, e por isso sempre disse que um dia retornaria, e de uma mãe cujos laços com a terra natal foram rompidos abruptamente, causando grande insegurança e apego material. São visões bem contraditórias, porém podemos pegar um pouco de cada coisa boa de cada visão para construir nosso mundo. Você não está nem nunca estará só, e nem desamparado, mas deixe que o ar entre pela janela, não vire uma ostra, meu irmão.

10 de abril de 2008

Porque fiquei nervoso, George?



Na educação que recebi dos meus pais, fui treinado a prestar atenção a detalhes específicos, ao mesmo tempo em que fui informado de que a maioria das pessoas não prestaria a mesma atenção aos mesmos detalhes. Isso é "coisa de árabe". Eu não sou descendente de um Sírio e de uma Libanesa, eu descendo de pessoas que acreditam/acreditavam que houve/há uma "diáspora político-religiosa", que impediu/impede o povo árabe de constituir uma nação una e laica. Então, George, quando você diz que "ELES" são loucos, eu entendo "NÓS" somos loucos. Porque sou brasileiro, amo este país, mas também me considero árabe, Sírio, sei lá. Então, quando eu sinto que a mídia, que sempre foi tendenciosa (leia-se pró EUA e seus aliados) sobre questões do oriente médio, consegue a façanha de fazer uma pessoa inteligente como você achar um absurdo o que a China faz com o Tibet (o que eu também acho) mas também achar "mais aceitável" o que se fez com o Iraque, (porque "eles são loucos" ou porque "Saddam atacou os Curdos"), eu perco as estribeiras, não deveria, você tem o direito de achar o que quiser, mas tem hora que várias coisas da minha vida se juntam a essas coisas da minha formação "especialista", e o caldo entorna e não deveria entornar. Por isso, publicado no meu Blog, eu assumo que errei e te peço desculpas, acho que a nossa amizade é mais importante que essas coisas, porque ela está aqui e podemos controlá-la, e não em uma realidade distante de nossa capacidade de ação.

7 de abril de 2008

Fractais



Fractais são mais do mesmo se repetindo sempre. Fractais são a parte pelo todo e o todo em cada parte. Um por todos e todos pelo bem comum de cada um. Fractais são fragmentos. Ainda vivo pensando que um dia mudarei a forma que penso para dar um passo além, mas ainda penso como antes porque antes já pensava que um dia mudaria a forma de pensar para dar um passo além, pois só posso dar um passo além se mudar a forma de pensar em mudar um passo de cada vez além dos passos que já percorri porém não reconheço que mudei portanto estou no mesmo lugar. Fractalmente.

1 de abril de 2008

Eu x Eu

Tenho vontade de me pegar de jeito um dia, me encostar na parede e me dizer umas verdades, e não me deixar escapar até eu dizer tudo o que tenho pra vomitar sobre mim. Dizer o quanto me decepcionei comigo, o quanto esperava mais, o quanto estou descuidado. Dizer a mim que me falta coragem pra viver de verdade e assumir mais riscos. Dizer a mim que eu quero um tempo de mim mesmo com a minha cara amarrada e minhas roupas largas que não escondem nada pois não há como esconder-se de mim. Tenho vontade de me dar umas porradas, de me forçar ajoelhar e pedir perdão a mim mesmo por toda a dor que me impungi esses anos todos. Tenho vontade de não olhar mais na minha cara, mas não consigo fazer isso ainda.

Cheio...

Nada me demove da idéia de que todos vocês estão seriamente lesados mentalmente, com suas coisinhas pra dizer e coisinhas pra fazer, com seus achômetros pretensamente espiritualizados e com seu medo de estarem simplesmente vivos, com suas idéias pré-concebidas sobre o que é ser certo e o que é ser bom. Enquanto prejudicarem aos meus não terão a minha bênção, e a minha bênção é abençoada, vale um caminhão.

Sozinho ele caminha, sem prazer e sem recompensa. Sem gosto, sem sentido. Vai só, acorda só e dorme só. Vive só, por mais pessoas que conheça e por mais que sua família o ame. A solidão é um estado de consciência. A solidão é parte integrante da vida, não pode ser vendida separadamente... Irônico, não?