28 de novembro de 2010

Menininha não quer Crescer


Menininha não quer crescer. Sempre foi mimada e protegida, sempre foi poupada. Se esconde atrás de seus gritinhos e pitis, porque pensa que gritinhos e pitis a isentarão de responsabilidades. Menininha quer ser jovem para sempre, quer fingir ser pura para sempre, se fazer de vítima para sempre. Menininha quer ser a menor de todas e não aceita concorrência. Se esconde debaixo de asas e rabos de saia, para que o mundo não a enfrente nunca. Menininha tem medo, e quando vê o monstro, aperta os olhos e finge que ele não existe, ela espera o monstro sumir. Menininha fica de mal do monstro, transforma tudo que a toca em monstro, para não ser tocada nunca. Menininha não se permite tocar nem afetar, portanto não entende o afeto e nem nunca viveu o afeto. Menininha não crescerá, mas um dia não terá as asas dos outros para se cobrir, nem os rabos de saia onde se agarrar. Nesse dia, então, Menininha supostamente teria que enfrentar o mundo. Talvez um dia ela o faça. Ou, como sempre, optará por fugir para dentro de seu dolorido mundinho sem dor.

27 de novembro de 2010

Lenda Desconhecida


Sentado no meu palco eu observava a movimentação da platéia. Celulares em riste, olhares elevados, ombros elevados, pompa. Eram advogados, matemáticos, gerentes de informática, CEOs, piscólogas, jornalistas e funcionários públicos. Eram seres que tinham vindo se entreter com o teatro que eu fazia e vivia. Enquanto eles estariam lá apenas por algumas horas, eu era aquilo, aquele boneco animado pelo personagem que eu vestisse, e que seria despido em algumas semanas, e vestido com outra roupa em outro novo espetáculo. Eu era o entretenimento errático, sem convicção, de guilhermes e paulas, martas e anas, ligias e césares, todos com suas vidas certas, com data de nascimento, tempo de validade e hora da morte. E eu era imortal, um fantasma que vagava devagar demais, sorvendo uma seiva rala que não me alimentava, não me saciava.
Séculos passaram-se, e a cadeira onde eu sentava apodreceu e deixou de existir. E eu não estava mais ali, tinha sido espalhado pelo ar, esfregado nas paredes, eu era uma lenda que ninguém conhecia.

14 de novembro de 2010

NINA


I Wish I knew How it Would Feel to be Free

(As sung by Nina Simone)

I wish I knew how it would feel to be free
I wish I could break all the chains holding me
I wish I could say all the things that I should say
say 'em loud, say 'em clear
for the whole round world to hear.

I wish I could share all the love that's in my heart
remove all the bars that keep us apart
I wish you could know what it means to be me
Then you'd see and agree
that every man should be free.

I wish I could give all I'm longing to give
I wish I could live like I'm longing to live
I wish that I could do all the things that I can do
though I'm way overdue I'd be starting anew.

Well I wish I could be like a bird in the sky
how sweet it would be if I found I could fly
Oh I'd soar to the sun and look down at the sea
and I'd sing cos I'd know that
and I'd sing cos I'd know that
and I'd sing cos I'd know that
I'd know how it feels to be free
I'd know how it feels to be free
I'd know how it feels to be free
(Sent by Dan)

11 de novembro de 2010

Quando" nós" se torna "eu"


A voz era comunitária e falava por muitas pessoas. A voz eram vozes, eram gritos pedindo atenção, na verdade exigindo. Uma voz refletia a vontade de muitos. Uma voz era a força da união de todas as vozes.
Um dia, a voz perdeu o brilho, e então, aos poucos, foi se calando, fechou-se em si, deixou de ser um pranto unificado, passou a ser um grito calado e triste. Aos poucos, as vozes abandonaram a voz, pois ela já não as representava mais, não contribuía em nada ao brilho das outras vozes. A voz não colaborava mais. A voz enfraqueceu, tornou-se quase inaudível. As vozes foram ser vozes sozinhas, pois a cada uma delas fora prometido "um lugar ao sol". As vozes queriam ser a sua própria voz, mas não entendiam que nunca seriam tão fortes separadas. Enquanto isso, a voz buscava também seu lugar ao sol. E o sol cresceu, ficou grande demais, e engoliu a Terra e todas as vozes, grandes e pequenas, e o dia seguinte nunca aconteceu.

9 de novembro de 2010

dedos gordos imprezizoz

Blogs existencialistas digitados por dedos grossos em um teclado sem teclas não costumam ter muita audiência.