16 de fevereiro de 2011

As coisas conversam

Geladeira está sozinha no seu canto, tremendo, quando ouve um "psiu". George Foreman, o Grill, queria saber qual seria o menu do dia. Geladeira sabia que George Foreman só estava puxando papo furado, pretexto para flerte. George Foreman, apesar dos bifes, é um grill bem galinha. Enquanto isso, Criado Mudo guardava segredos pouco edificantes do dono do quarto, e a Ducha Higiênica substituia o sr Bidê. Smartphone e Computador mantinham relacionamento intenso, em cima da mesa, via bluetooth e wi-fi. O gato era apenas carne e instintos, e se suicidaria sem querer, tentando pegar uma vespa que sairia sem destino pela janela do banheiro. Os humanos nunca souberam disso, e tocavam suas vidas mecânicas, trabalho, escola e academia, absorvendo os nutrientes necessários para tornarem-se menos coesos.

13 de fevereiro de 2011

O Idólatra


Ele era idólatra. Sempre tinha alguém em quem se espelhar, sempre alguém a quem usar de exemplo de felicidade e sucesso. O ìdolo em questão já fora seu irmão mais velho, um colega fora dos padrões, um amigo "Don Juan" pegador, um rebelde que explodia vasos sanitários na escola, um tio irmão do pai que se rebelou contra o avô e virou artista plástico. Todos eram ótimos, eram rebeldes, eram revolucionários. Porém, serviam apenas de referência. O Idólatra só queria ídolos para que estes concretizassem seu mundo, realizassem o que ele sabia que nunca iria realizar. O idólatra coloca no ídolo a tarefa de ser feliz por ele. Aqui, na terra, ele afunda os pés e finca raízes, se cerca de certezas, envelhece e é esquecido, enquanto seus ídolos viram pedra e caem sobre sua cabeça.