18 de setembro de 2009

Quem Tem Sensibilidade para Mudar o Mundo Não tem a Vontade de Poder de um Lider

Uma frase jogada quase que ao acaso num filme que assisti há poucos dias, "Antes do Por do Sol" (Before Sunset, EUA 2004, Direção Richard Linklater, com Ethan Hawke e Julie Delp, sequência do filme "Antes do amanhecer", de 1995, mesmo diretor, mesmos atores).
A Frase valeria o filme se o resto da história não fosse bom, mas é. No primeiro filme o casal protagonista, quase adolescentes, se conhecem e vivem uma estória de amor em um trem pela Europa. Na sequência de 2004, o casal se reencontra em Paris 9 anos depois. No reencontro ela diz que trabalha com causas sociais, ongs, etc. E menciona um episódio onde ela e seus pares estavam atrás de doações para levar lápis a estudantes no México. Dai ela se dá conta do paradoxo do título deste post, com minhas palavras: quem tem a sensibilidade, conhecimento e desejo de mudar o mundo, de levar o conhecimento das coisas certas aos lugares certos, de tal forma a provocarem uma mudança real nas coisas erradas do mundo, simplesmente não têm a ambição necessária para se tornar um líder, a vontade de poder que o leva a fazer o esforço necessário para alçá-lo à posição em questão.
Evoluindo esse raciocínio: É possível talvez que quem tenha desenvolvido a sensibilidade de mudar o mundo, simplesmente rejeite o poder, talvez justamente por identificá-lo com tudo aquilo contra o que luta, ou talvez por medo de sujar as mãos com uma realidade difícil de aceitar, a impotência. Enquanto isso, o obstinado futuro líder se convence que só poderá fazer a diferença quando chegar na posição futura almejada, e que para tanto os fins justificam os meios. Compulsivos. Viciados nos próprios erros. Humanos.

10 de setembro de 2009

slow messages - compartilhando mensagens lentas

A idéia é fixa. Abro o MSN e, abaixo da imagem do meu avatar vem o comando, imperativo: "compartilhe uma mensagem rápida". Outros softwares prometem conectividade "instantânea", múltipla, quase ubiquidade, onipresença maciça em todas as redes, em diversos meios, modos, formas. Entregamos parte de nós nas mensagens. Somos a mensagem, não nos relacionamos, apenas conectamos, "cutucamos", interagimos entre avatares padronizados, mais-que-perfeitos, embora menos que nós.
Por outro lado, o Hedonismo é um Deus, exige sacrifícios. Entregamos a enorme parte de nós no dever diário de criar valor, valorizar, valer a pena, inovar, reformar, reavaliar e lucrar, ou ao menos empatar, ou ao menos pagar parte das contas em um mês, parte em outro. Priorizamos quem liga mais, quem perturba mais, quem cobra na frente, fazendo com que essa seja a regra, quem não chora não mama, não recebe sua parte.
Ainda, nos pedem opiniões. De como servir mais e melhor, de como acertar mais, palpites sobre a textura, cor, forma, sorriso, efiácia, rapidez, gosto, prazer. Purgamos. Estamos na antessala de um inferno terreno, somos os ratos correndo na roda das gaiolas dos laboratórios. Somos menos, pois somos demais. Sobrevivemos a mais doenças fatais, enfraquecemos o gene, somos menos animais, estamos nos tornando gatos sem garras, cães sem mandíbulas, minidinossáuros, semi-extintos, em um mundo que desmorona pelas nossas próprias mãos. Somos a manada em direção ao abismo, impossível frear, corremos rápido, corremos querendo ou não. Afinal, somos homens e mulheres livres, de um mundo liberal, que permite que os mais ágeis, astutos e inteligentes prevaleçam, ditem as regras como se elas simplesmente brotassem no jardim. Naturalmente.
A nossa Era propicia o surgimento de um novo Neandertal, gigante, monstro ou vampiro. Esse ser mítico mataria sua sede pela força, sugando o sangue de suas vítimas, deixando de lado quaisquer convenções sociais, saciando-se e abrigando-se como único fim e meio de existência. Um ser ensinado pelo descaso, pela frieza, pela dureza dos dias atuais. Um ser verdadeiramente pós-moderno, cíclico, como a moda e a galáxia. Algo aparentemente retrô, quase que deslocado de um passado onde significava algo, mas que aqui, na selva, vê como imperativo sobreviver.