10 de setembro de 2009

slow messages - compartilhando mensagens lentas

A idéia é fixa. Abro o MSN e, abaixo da imagem do meu avatar vem o comando, imperativo: "compartilhe uma mensagem rápida". Outros softwares prometem conectividade "instantânea", múltipla, quase ubiquidade, onipresença maciça em todas as redes, em diversos meios, modos, formas. Entregamos parte de nós nas mensagens. Somos a mensagem, não nos relacionamos, apenas conectamos, "cutucamos", interagimos entre avatares padronizados, mais-que-perfeitos, embora menos que nós.
Por outro lado, o Hedonismo é um Deus, exige sacrifícios. Entregamos a enorme parte de nós no dever diário de criar valor, valorizar, valer a pena, inovar, reformar, reavaliar e lucrar, ou ao menos empatar, ou ao menos pagar parte das contas em um mês, parte em outro. Priorizamos quem liga mais, quem perturba mais, quem cobra na frente, fazendo com que essa seja a regra, quem não chora não mama, não recebe sua parte.
Ainda, nos pedem opiniões. De como servir mais e melhor, de como acertar mais, palpites sobre a textura, cor, forma, sorriso, efiácia, rapidez, gosto, prazer. Purgamos. Estamos na antessala de um inferno terreno, somos os ratos correndo na roda das gaiolas dos laboratórios. Somos menos, pois somos demais. Sobrevivemos a mais doenças fatais, enfraquecemos o gene, somos menos animais, estamos nos tornando gatos sem garras, cães sem mandíbulas, minidinossáuros, semi-extintos, em um mundo que desmorona pelas nossas próprias mãos. Somos a manada em direção ao abismo, impossível frear, corremos rápido, corremos querendo ou não. Afinal, somos homens e mulheres livres, de um mundo liberal, que permite que os mais ágeis, astutos e inteligentes prevaleçam, ditem as regras como se elas simplesmente brotassem no jardim. Naturalmente.
A nossa Era propicia o surgimento de um novo Neandertal, gigante, monstro ou vampiro. Esse ser mítico mataria sua sede pela força, sugando o sangue de suas vítimas, deixando de lado quaisquer convenções sociais, saciando-se e abrigando-se como único fim e meio de existência. Um ser ensinado pelo descaso, pela frieza, pela dureza dos dias atuais. Um ser verdadeiramente pós-moderno, cíclico, como a moda e a galáxia. Algo aparentemente retrô, quase que deslocado de um passado onde significava algo, mas que aqui, na selva, vê como imperativo sobreviver.

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