27 de dezembro de 2007

Dois Anos após o Dia 29

Há quase 2 anos, eu vi seu sorriso pelas últimas vezes. Vi você esconder sofrimentos e se fazer de forte. Ouvi suas piadas em árabe, traduzidas, e por isso sem tanto sentido, e vi as pessoas rindo de você pelo seu costume de achar nos Sírios a origem de tudo. No dia 25/12/2005 à noite, eu perdi a chance de ver se você estava em casa, e nos dias 26, 27 e 28/12/2005, eu me esqueci de qualquer coisa que não fosse eu mesmo. No dia 29/12/2005, eu perdi a chance de passar o dia com você, e perdi meu tempo com coisas fúteis, sentimentos inúteis e irritações sem sentido. No mesmo dia, por volta das 17 horas, eu disse a você um tchau muito rápido, nos abraçamos, te dei um chanclich que eu havia feito segundo sua receita, e fui embora, esperando te encontrar em alguns dias, esperando que você cumprisse a promessa que não me fez, mas na qual eu acreditava piamente, de ser ser eterno e imortal. Fomos nos encontrar poucas horas depois, eu destroçado e você eterno. Foi-se um homem que era do tempo em que, como você dizia, "gigantes andavam sobre a terra". Hanna, estamos há 2 anos sem você, e não passo um dia sem sentir sua presença e sua ausência.

O Novo

E se repentinamente eu descobrisse que posso realmente fazer alguma diferença no mundo? E se simplesmente eu percebesse que fazer a diferença fosse consequencia de fazer diferente, não muito diferente, apenas meros detalhes feitos com maior ou menor cuidado do que antes - feitos diferentes? E se um dia eu acordasse percebendo o "real sentido" de todas as histórias infantis? E percebesse, por fim, que ninguém fica adulto de verdade, apenas se mascara e se esconde atrás de arquétipos? Não sei se teria eu coragem de admitir que por trás de uma ruga e de um cabelo branco, existe a mesma criança que um dia ousou porque não sabia que era impossível. Piegas, como a vida.

20 de dezembro de 2007

O Retorno Natal

Todo ano, retornamos ao Natal. Com o intuito da confraternização, uns retornam à cidade natal, ou à casa natal, reencontram as pessoas que fizeram parte de suas vidas, lembram das que não estão mais. Natal, não importa o que digam, mexe. Eu, que alguns posts abaixo critiquei e disse que não gostava de natal, penso que a data me perturba, talvez mais do que eu gostaria.
Voltar ao Natal é voltar-se para dentro, para a essência primeira, da qual somos feitos. E é a melhor época para isso, principalmente quando tentamos exprimir em compras o que sentimos por alguém: momento sublime da conscientização de que nada material vai jamais exprimir um sentimento humano com perfeição. Natal é retorno à essência, e o supérfluo não é, por definição, essencial, por mais que seja bom. Ah, sim, os natais são fartos, ninguém precisa de chester e lombo e toda aquela comida, mas ocorre que a celebração é essencial, o exagero é quase uma oferenda... é parte do rito. O rito, a repetição, reforça o mito, a crença. E voltar-se para si mesmo é rever / revalidar /reavaliar as próprias convicções.

13 de dezembro de 2007

O Fim da Euforia

Pra quem sempre gostou de ser o último a ir embora, ele havia mudado bastante. Ultimamente as pessoas pareciam para ele repetições de si mesmas, lengalengas insuportáveis que faziam-no desistir de ouvir, concordando com a cabeça vazia, balançando, cheia de sono. Um mundo perfeito aguardava-o logo após o martírio: sua casa, sua família, sua TV, seus livros e cozinha, seus vinhos, seus prazeres. "E a discussão política, e o futebol, e as mulheres?" perguntavam seus amigos - "Você sempre foi fã de um bom bate-boca!!!" A resposta era a mesma, "pois é... pra você ver...". A verdade é que a euforia deixou de existir, que o brilho, o torpor, a sensação de potência ilimitada e de imortalidade tinham cessado. Encanto findo, cai a carne contra o chão de pedra. Cai, na real.

12 de dezembro de 2007

Órfãos de Tios

O que aconteceu com todos os "Tios" e "Tias" da minha infância? Nos "guetos" sírio-libaneses em que fui criado, todos os amigos dos meus pais eram meus "tios", e todos os seus filhos eram meus "primos". Além desses, todas as minhas professoras até a 5a série (atual sexto ano) recebiam o tratamento de "tia" - e era isso mesmo, um tratamento, como "dona"ou "seu", sem conotação pejorativa nenhuma.
Na minha adolescência também era normal chamarmos os pais de amigos de tio ou tia, porém percebi que algumas pessoas se incomodavam... principalmente as mulheres. Talvez doesse em seus ouvidos pelo temor de que esse apodo pegasse, concretizando assim um temor muito grande das balzaquianas e além de nossa adolescência: "ficar pra titia"...
Minha filha chama os professores pelo nome desde a primeira série... trata-se de uma questão de nomeação politicamente correta, penso eu. Ou será um resquício do temor de se ficar "pra titia" dos anos 70?Afinal, homens e mulheres casam-se muito mais tarde hoje em dia, isso quando o fazem. Eles já se casam "tiozinhos", como se diz por ai.

Natal Data

Eu não gosto de natal. Demorei pra admitir, nem sei porque. Aliás, agora eu tenho um motivo, já que seu Hanna resolveu partir nessa época, mas de verdade a data me cansa. Rejane, minha mulher, diz que não gosta de karaokê por achar a disputa pelo microfone idiota. Eu acho que Natal é isso: disputa idiota pela felicidade comprada na forma de um presente e que usa uma desculpa pretensamente nobre para existir. Natal é ostentação de fartura e papai noel, e não "Cordeiro de Deus que paga os pecados do mundo". Mesmo porque, mais uma vez, os pecados do mundo são impagáveis...

Fuga

O meu pai era um híbrido de Sancho Panza e D. Quixote, ou Sherlock e Watson. Depois da sua morte eu encontrei muitas pessoas que eu não conhecia que conviveram em algum grau com ele, sempre falando muito bem dele. Ele adorava um bom papo cabeça, e seu lado professor adorava entrar na vida das pessoas propondo certeiras soluções. Acho que as pessoas sentiam amparo em seu discurso inflamado, como se ele fosse um vingador. Era meu herói, meio anti-herói como Hommer Simpson ou Ghouar Toshi (comediante Sírio) e eu não percebi a tempo, e sua morte ainda me doi muito.


Deus, existindo, me deve muitas explicações.

Audácias

Tem um lado meu audacioso demais, um lado simplesmente esquecido na maioria das vezes e que de vez em nunca aflora, ou ao menos põe a cabecinha pra fora. uma delícia de sensação, pena que não dura.

Promessas

(Post Migrado - data original - Quarta-feira, 28 de Novembro de 2007)

Prometi a mim mesmo que escreveria mais. Prometi a mim mesmo tanta coisa descumprida, que a dívida que contraí comigo mesmo tornou-se impagável... acho que vou dar calote na dívida...

Recuperar

(Post Migrado - data original do post - Sábado, 29 de Setembro de 2007 - 8:30h)

Recapturar algo que foge, um sonho que é só uma vaga lembrança. Buscar a fundo, nem sempre suficientemente a fundo, mas penetrando ao máximo que seus pulmões possam suportar antes de quase explodirem e depois o retorno, infrutífero esforço. 1991 é só memória, e eu em 1991 quase não me reconheceria hoje. O "quase" foi uma suavização da realidade dura. "Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo", Clara Crocodilo e Fernando (em) Pessoa me mordam...

Vida e Morte seguem seus rumos e paradas, e a pergunta surge: será que vale abdicarmos tanto do presente em nome de um futuro tão incerto quanto a vida?