23 de fevereiro de 2010

Lambuzar-se

Tudo começa como uma brincadeirinha inocente. Cresce um tanto, e aparenta ser controlável até que foge. O fluxo de pensamentos aumenta exponencialmente, as conexões crescem e saem dos limites do corpo. Tudo fica muito fácil e óbvio, tudo fica muito doce e são. Porém, enquanto sua alma levita agraciada pelo fato de ser alma, almejando velejar ao sabor do vento, seu corpo pesado torna-se âncora, enganchado a qualquer coisa fixa no chão, terra para ar reanimação burburinho e você ouve: - cara, larga essa privada... levanta devagar... sua esposa veio te levar pra casa...

22 de fevereiro de 2010

O Mal e a Cura

Tomou remédio, pois chegaram à conclusão de que era muito nervoso. Vamos experimentar 10, 20 não pode fazer mal, 40 pra ver como reage, 60 é somente um teste. A calma veio, nada de mais, nada aparente, apenas um leve sossego, que causava um pequeno desassossego: Esse ser mais calmo e tolerante era ele? Ou era o remédio? Ou era ele com remédio? E sem, voltaria a ficar nervosinho e gritalhão? Era sem razão então que gritava, suas angústias eram meramente bioquímicas, as mazelas de sua vida não eram nada de mais, nada que qualquer um não pudesse aguentar sorrindo?
Havia algo mais, melhor dizendo algo a menos. Havia um pulso a menos, um tesão a menos, um quê de passividade. Era ele que era assim? Dessem um remédio desses para Picasso e ele criaria tudo igual? Don Juan e Sade assinariam suas obras com a mesma pena tesa? O que é um remédio civilizatório, que encabresta o homem, tapa uma pequena - mas não toda - parte de sua vontade de urrar e mugir quando bem entende? Não - disseram a ele - você não entende, nem bem entende. Nada de mais.

20 de fevereiro de 2010

Escravidão por dívidas

A Escravidão, ainda nos dias de hoje, persiste. Encontramos casos diversos, normalmente em áreas rurais mais afastadas, de pessoas que trabalham em condições muito aquém do que é considerado digno pela OIT (Organização internacional do trabalho) e pela própria declaração dos direitos humanos.
É considerada escravidão o ato de impingir a outrém obrigações forçadas, ou sujeitar a pessoa a condições degradantes de trabalho, que não possibilitem dignidade.

Eu gostaria de saber qual o nome do processo pelo qual uma pessoa se vê obrigada a dar mais do que recebe para quitar uma dívida com um banco, cartão ou outra instituição. Vem a minha mente a mesma questão: não seria essa uma situação de escravidão por dívidas, ter que trabalhar durante um mês e ter à sua porta cobradores de instituições que abusam dos juros praticados, que se acumulam e se multiplicam acumulados? Quem perde o controle de suas dívidas não se torna menos do que senhor de si? Sua condição de vida, mesmo que não se refira a trabalhos manuais, jugos e afins, não acaba por ser degradante?

Quem não é escravo das próprias dívidas?