27 de novembro de 2010

Lenda Desconhecida


Sentado no meu palco eu observava a movimentação da platéia. Celulares em riste, olhares elevados, ombros elevados, pompa. Eram advogados, matemáticos, gerentes de informática, CEOs, piscólogas, jornalistas e funcionários públicos. Eram seres que tinham vindo se entreter com o teatro que eu fazia e vivia. Enquanto eles estariam lá apenas por algumas horas, eu era aquilo, aquele boneco animado pelo personagem que eu vestisse, e que seria despido em algumas semanas, e vestido com outra roupa em outro novo espetáculo. Eu era o entretenimento errático, sem convicção, de guilhermes e paulas, martas e anas, ligias e césares, todos com suas vidas certas, com data de nascimento, tempo de validade e hora da morte. E eu era imortal, um fantasma que vagava devagar demais, sorvendo uma seiva rala que não me alimentava, não me saciava.
Séculos passaram-se, e a cadeira onde eu sentava apodreceu e deixou de existir. E eu não estava mais ali, tinha sido espalhado pelo ar, esfregado nas paredes, eu era uma lenda que ninguém conhecia.

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