25 de agosto de 2012

Recorte

Não se pode ser tudo. Há que se fazer escolhas. Uma alma contida em uma escala pequena de desejos não brilha. Uma alma incontida, desejando incondicionalmente a tudo e a todos, também não brilha. Ha que se fazer recortes. Aparar arestas. Lapidar-se. Uma alma incontida almeja tocar o céu, mas o faz por caminhos demasiadamente terrenos. A flor e o diamante. Há que se enxergar a roupa invisível do rei e, ainda assim, dizer a todos que o traje é belo. Há que se amar o poema, mas martelar o duro metal a fim de dar a ele uma forma que dificilmente será alterada. Alterar a forma, a fôrma, formar uma vida, a cada martelada uma nova forma, a cada martelada uma nova dor. Optar pelo metal bruto ou o metal trabalhado. Se opta-se pelo bruto, admira-se a beleza natural da gema; se opta-se  pela lapidação, a forma natural se vai, para ser transformada em outra beleza. Contenha-se. Castigue-se. Capriche. E lembre-se: tudo vai se perder um dia, a arte é fátua, o fogo extingue-se, a vida nasce morta.

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