2 de junho de 2011

A poção da felicidade


Ele sempre sorria. E sempre tinha ideias brilhantes (ao menos ele mesmo julgava-as brilhantes) e que iluminavam a vida. Porém, acordou triste, em um dia meio triste, e foi a um Xamã, que lhe deu uma poção. Deixou a tristeza de lado, mas ao invés de voltar a ser alegre, ficou serio. Foi trabalhar num lugar monótono, onde seria alguém na vida. Subiu na empresa, teve os carros de todos os anos e o Home Theater dos sonhos, no apartamento dos sonhos, e fez viagens de sonhos. Mas era serio, nada mais era tão alegre quanto antes. Não era triste, mas era serio.
Um dia, ele foi a um parque de diversões, procurando a alegria perdida, e entrou na casa dos espelhos, um local que sempre gostou. E os espelhos o refletiram, mais magro, mais alto, mais baixo, mais cheio, torto assim, torto assado; viu-se refletido infinitas vezes. Saiu da casa dos espelhos sentindo-se estranho. Parecia que conhecia todo mundo. Parecia que conhecia cada um dos estranhos com quem esbarrava. Eram todos muito parecidos com ele, como se tivessem saido junto com ele da casa dos espelhos. Todos vestiam terno quase da mesma cor, e óculos de modelos semelhantes, e dirigiam carros parecidos, e o perseguiam em todos os lugares, e moravam no mesmo bairro, alguns até no mesmo prédio. "Que loucura é essa?" pensou, sem saber mais quem imitava quem. Naquela noite, sonhou que outro ele dormia com sua mulher, e brincava com seus filhos, e visitava sua mãe. Ele via o mundo, o seu mundo, mas não fazia parte dele, era só um espectador, em um edificio de vidro, e em todos os andares, a mesma cena se repetia: ele sentado, olhando sua vida em uma tv de lcd. Acordou assustado. E resolveu ir brincar e ser criativo e alegre de novo. Mas não sabia mais como. Perdera a intimidade com a alegria. Teria que começar de novo.

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