13 de junho de 2011

Contexto


Zé e Pedro eram muito muito amigos. Ana e Paula eram suas respectivas companheiras, e também eram muito amigas. Zé e Pedro trabalhavam juntos, e moravam perto. Um dia, Zé e Ana terminaram. Ana não queria ver Zé de jeito nenhum. Paula, solidária à amiga, também não queria ver o Zé, e também não queria que Pedro visse o Zé.
No trabalho, o Zé se aproximava de Pedro para falar do que estava sentindo em relação à separação, mas este correspondia muito pouco, como se estivesse fazendo algo errado.
Zé pediu então se poderia jantar na casa de Pedro, pois queria falar com a Paula, a quem muito considerava. Pedro contou isso à Paula, que relutou, fez bico, disse que não queria, mas no fundo estava com pena do Zé, e acabou cedendo.
No dia combinado, Zé chorava as pitangas para o Pedro, cada um abraçado ao seu copo de uísque, enquanto Paula pegava a sobremesa. Nisso, a campainha tocou. Era Ana, que logo viu o Zé e desatou a chorar e querer ir embora, mas foi impedida pela Paula. Naquele dia, Zé e Ana conversaram e puseram pingos nos "is", enquanto Paula e Pedro saíam para tomar café. Paula tremia. Pedro, calado, pegou em sua mão. Paula retirou a mão e conduziu-a ao rosto. E contou, pela primeira vez na vida a alguém, o que realmente sentia: Não sabia mais quem era, as coisas mudaram, que ela torcia para que a Ana terminasse com o Zé não apenas por achar que este não a merecia, mas sim porque queria a Ana, que a queria para si, que a amava e desejava incontrolavelmente. Pedro, calmo, disse que já desconfiava, e que não tinha tido coragem de perguntar, mas já havia flagrado os olhares e o excesso de zelo dela para com a amiga. "Ainda não acabou", disse Paula. E contou que também havia saído algumas vezes com o Zé, que ele sempre a assediava, e que não sabia porque havia feito aquilo, que não reconhecia a si própria, que não era ela mesma. Pedro sentiu dois duros golpes, fora traído de uma só vez pelo amigo e pela esposa. Em seu orgulho de macho, não se sentiu traído pelo amor confesso da esposa a outra mulher, mas sim aos rápidos affairs entre seu amigo homem e sua esposa. Verteu lágrimas caladas, e percebeu um fim se aproximando, um ponto onde ele pediria para descer. Outras conversas rolaram, uma briga feia entre Pedro e Zé, a separação da Paula, e as conversas com Ana, com quem nunca tinha falado tanto quanto naquelas últimas semanas. Ana chegou a ter um caso com Paula, classificando o sexo como "surpreendente", mas sem chance de um relacionamento sério, pelo contexto, mais do que pela questão de serem do mesmo sexo. Pedro achava o mesmo em relação ao sexo com Paula, mas somente no começo do relacionamento deles. Pedro tinha uma teoria: A mulher solteira se esforça mais, na sedução, no sexo, na dedicação e, sem perceber ou percebendo, engana seu homem, fazendo ele acreditar que se casou com alguém que na realidade não existe.
Pedro e Ana Casaram-se em 2 de abril, em uma cerimônia discreta, talvez porque Ana tenha feito Pedro acreditar que com ela a história seria outra...

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