2 de novembro de 2009

Quixote

Ao meu redor mais e mais sonhadores rendem-se ao mundo real, deixando de lado ideais e ideias para ingressarem na anárquica rotina de fazer sempre um pouquinho todo dia. Essas crianças vão armando-se, ou sendo armadas, até os cabelos, para que enfrentem a guerra de serem responsáveis e portanto responsabilizáveis por compromissos dos quais não se atreverão a fugir, com risco de perderem tudo o que construíram, castelos de cartas mal empilhadas que não alcançarão nem atingirão Deus, não espalharão a discórdia mas também não trarão concordância, apenas um breve êxtase durante suas construções, e uma rápida - porém esperada - decepção diante de sua inevitável queda.
O exército de sonhadores, arregimentados pelo universo do Real, farão falta momentânea, mas depois retornarão, assim que perceberem que sua proposta atual não contempla felicidade. O problema é que esse tempo até tal percepção, esse "assim que", pode ser longo, e a volta, tardia.
Enquanto isso, no mundo da fantasia, as baixas são enormes. Os Quixotes que ficaram quase não dão conta dos moinhos de vento, pás sobre a cabeça, pés sem raízes. "O que eles pretendem?", perguntam-se os realistas, montados em suas razões, de posse de seus argumentos bem estudados e marcas que os definem em castas. A resposta é complexa, mas a tentativa de uma síntese vai aqui: Olhar por outros ângulos, declarar a morte do Certo e bradar "longa vida" ao Duvidoso.

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